2008 - O desafio era a palavra Império, só Império
E o dicionário diz:
"Império - Comando, autoridade; domínio, predomínio; influência
dominadora, estado de vastas dimensões, nação de grande porte, estrutura
económica que se assemelha à de um império."
O
meu olhar é de hoje e de ontem, vivido e sentido; o meu olhar é ocidental, racional qb., e
justo, tanto quanto possível.
Assisti
à queda do nosso Império Colonial. Era previsível que ele caísse, e só quem não
quis escutar as vozes e os actos que anunciavam o seu fim próximo, é que pôde
acreditar que seríamos capazes de manter o que nos restava do mapa cor-de-rosa.
Matámos
e morremos, pilhámos, incendiámos e perdemos, deixando uma geração marcada para
sempre pelo horror, estupidez e brutalidade da guerra. Ficámos mais pequenos,
deixámos de olhar para o mar e voltámos-nos para a Europa e pensámos que
finalmente íamos ser europeus. Perdemos as nossas raízes marítimas, a coragem
que o mar despertava em nós, a capacidade de adaptação a novos climas, novas
terras, novas gentes e achámos que já não éramos periféricos, pobres, invejosos
e maldizentes. Acreditámos ser outros que não somos, e arruinámos o sonho e a
ousadia.
Vivemos
ainda da memória de um Império que já não temos, da glória daqueles que sempre souberam
que o mar era o nosso destino, e estamos como zumbis à procura de um caminho.
Vivi
o fim da segunda guerra e a formação de novos impérios; de um lado o império
americano, do outro, o império soviético.
Soube de Estaline e da sua crueldade
diabólica, dos milhões de mortos, do Gulag, do maldito sonho da igualdade.
Emocionei-me
com De Gaulle, com Churchill e a sua promessa de “sangue, suor e lágrimas”…
O
dia D e a entrada na Normandia, finalmente a guerra poderia acabar.
Chorei
quando os aliados chegaram a Dachau e a Auschwitz e libertaram os prisioneiros
que ainda restavam.
Soube
do suicídio de Hitler e de Eva Braun. Vi a Europa destruída, esventrada, quase
aniquilada.
Vi
a Europa ser reconstruída com os dólares americanos, as democracias a serem
instaladas, as monarquias a caírem de podres.
Vi
cair Fulgêncio Baptista e acompanhei com entusiasmo a entrada de Fidel de
Castro, de Che Guevara e os seus homens em Havana. Um vento de
liberdade parecia soprar.
Vi
a esperança renascer em Praga e o povo acreditar que a liberdade era possível. Mas
vi também os tanques entrarem na cidade no dia 20 de Agosto de 1968. Caía
Alexandre Dubcek e a Primavera de Praga sucumbia perante a força bruta.
Vi
cair Salvador Allende e Pinochet tomar o poder. Vi os generais argentinos,
Videla, Massera, Gualtieri e as purgas sucessivas, as mães chorando os filhos
desaparecidos, torturados, mortos e enterrados em valas comuns. E os generais
brasileiros Geisel, Figueiredo, e a liberdade e os direitos suprimidos.
Vejo
agora o Iraque em sangue, e a América pregando uma nova religião a que chama
democracia, escondendo o objectivo supremo, conservar, monopolizar as reservas
de petróleo, sem as quais o mercado não pode crescer, sem as quais o mundo que
reconhecemos, e cujos valores, acreditando que ainda existam, são também os
nossos.
Vejo
a China a poluir-se, a poluir-nos, a invadir-nos e a inverter a ordem
estabelecida…outro império no horizonte!
Sou
europeia, periférica, mas europeia; acreditei que a liberdade era possível, que
as conquistas sociais pudessem permanecer, que se quisesse construir um mundo melhor. E se tivesse que
escolher, “não hesitaria um segundo”, era este mundo ocidental, imperfeito,
injusto, hipócrita, tantas vezes cobarde, cansado e envelhecido, a quem eu
daria ainda, o meu voto de confiança.