Há palavras que detestamos, esta é uma delas,
balde…e no entanto a memória encarregou-se de a transformar!
Não, não era só um balde, eram muitos cheios de
peónias majestosas, que se ofereciam aos olhos dos que passavam. Rosas,
amarelas, brancas, púrpura, carmim. Deslumbrantes, poderosas, inesquecíveis
peónias que um dia descobri num terraço em Paris…
Quantos
anos atrás? Muitos, cinquenta talvez, não importa, na memória a imagem ficou,
gravada, enraizada e as peónias passaram a ser a minha flor preferida.
E volto de novo à memória que nos faz aterrar sem
para-quedas onde menos esperamos e depois abrem-se capítulos, numa espécie de
flash back que não procurámos mas que não conseguimos travar.
Durante anos as peónias estiveram adormecidas,
não esquecidas, simplesmente retidas num lugar longínquo da minha vida.
Espanto-me com a nitidez de algumas imagens,
espanto-me como fui capaz de fazer desaparecer páginas de capítulos que
deveriam ser importantes, marcantes, mas desbotaram-se tanto que perderam a
forma, a cor, o cheiro. E outros que permanecem vivos, às vezes demasiado vivos
e no entanto foram só umas páginas escritas à pressa.
As peónias são decididamente a minha flor
preferida.