quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

*“A felicidade não é um estado perene..."



Querias saber se eu era feliz…perguntaste-me com insistência: “Diz-me foste feliz?”
“Feliz… sim, fui, ainda sou e talvez possa continuar a ser, mas a felicidade não é um estado perene, estável…um dado adquirido; a felicidade é desigual, injusta e fugitiva.”
“Injusta, dizes…”
“Sim tu achas que uns merecem ser felizes e outros não? A felicidade conquista-se?” Perguntas.
“Não, constrói-se, desconstruindo. Precisas de te habituar a esquecer e perdoar, tenta voltar a ser criança e talvez voltar a sorrir. Vês, esboçaste um sorriso, já é um começo “
“Mas quando ele se foi embora sofreste que nem uma condenada.”
…”Sim, condenada a esquecer, a apagar as emoções, os sonhos, as recordações, mas queimei tudo, lembraste? E escrevi-lhe:
“Desapareceram as tuas memórias, as tuas fotografias, os teus discos, os teus livros, desapareceste tu”.
“Foi brutal, mas libertei-me, as cinzas são levadas pelo vento, o chão fica limpo outra vez e consegui caminhar à procura da luz e algo a que pudesse voltar a chamar de felicidade. Encontrei, nada foi em vão.”

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Sabemos tão pouco...


As janelas da biblioteca estão abertas de par em par. Os raios de sol iluminam as prateleiras viradas a nascente; o resto permanece ainda na penumbra do amanhecer.
Magnifica colecção de livros que a família adquiriu ao longo dos últimos duzentos anos. Homens notáveis tinham ido ali procurar edições raras e beneficiar da paz e silêncio para reflectir, ler e escrever. Era uma atmosfera quase religiosa, um lugar onde o passado se entranhava no presente e se projectava no futuro. A calma era total, só a brisa leve da Primavera agitava as folhas dos plátanos e o cheiro da madressilva perfumava o ar.
Martim é o neto mais novo e também o mais intelectual; a biblioteca é o seu mundo, passa horas folheando livros, tomando notas. Tinha agora a responsabilidade da reorganização de toda a literatura do século XIX e XX. Quer tornar aquele espaço público, deixar que outros possam encontrar ali a resposta a dúvidas e a inspiração para novos projectos. Naquela manhã sente-se renovado, a Primavera deixa-o estimulado, possuído por uma nova energia.
Entra decidido a encontrar um livro raro de poesia, escrito por um famoso poeta da época e ilustrado pela sua avó. Não a conhecera, mas sabia que era dotada de uma rara sensibilidade e uma enorme independência de espírito. O avô nunca falava dela, Marim achava estranho mas não fazia perguntas.

Os livros de poesia estão nas prateleiras de cima e de difícil acesso; empurra o pequeno escadote e começa a procurar. Sim, é aquele mesmo, na capa o desenho de um pássaro. Abre-o curioso e ansioso como se estivesse a entrar na intimidade de alguém, folheia-o, duas rosas secas estão coladas às primeiras páginas. Começa a ler e não quer acreditar; são poemas de amor intenso, liberto, quase libertino, dedicados a Vitória…sua avó.

Caminho para a luz...considerações



O caminho não me oferece dúvidas, para melhor percorrê-lo procurei-a sempre. Sim, a luz que me desviasse da escuridão mesmo quando era mais fácil…e só o amor à vida me salvou sempre.
Sei que me resta pouco tempo, mas não tenho medo a sombra não conseguirá extinguir a luz.

Caminho para a luz, mesmo quando só me resta a sombra.
Ser o eixo, o pilar, a sustentação daquilo que acredito

A serenidade que vem com o tempo, é o prémio da vida.