Querias
saber se eu era feliz…perguntaste-me com insistência: “Diz-me foste feliz?”
“Feliz… sim,
fui, ainda sou e talvez possa continuar a ser, mas a felicidade não é um estado
perene, estável…um dado adquirido; a felicidade é desigual, injusta e
fugitiva.”
“Injusta,
dizes…”
“Sim tu
achas que uns merecem ser felizes e outros não? A felicidade conquista-se?”
Perguntas.
“Não,
constrói-se, desconstruindo. Precisas de te habituar a esquecer e perdoar,
tenta voltar a ser criança e talvez voltar a sorrir. Vês, esboçaste um sorriso,
já é um começo “
“Mas quando
ele se foi embora sofreste que nem uma condenada.”
…”Sim,
condenada a esquecer, a apagar as emoções, os sonhos, as recordações, mas
queimei tudo, lembraste? E escrevi-lhe:
“Desapareceram
as tuas memórias, as tuas fotografias, os teus discos, os teus livros,
desapareceste tu”.
“Foi
brutal, mas libertei-me, as cinzas são levadas pelo vento, o chão fica limpo
outra vez e consegui caminhar à procura da luz e algo a que pudesse voltar a
chamar de felicidade. Encontrei, nada foi em vão.”