quarta-feira, 29 de abril de 2020

O roubo do sonho


Há um mês que está fechado em casa, se é que se pode chamar casa, ao quarto atolado de móveis, livros, um divã usado, a cozinha onde mal se pode mexer e ao canto a que chamam casa de banho.
 Quando podia sair ainda sonhava, com a rapariga da tabacaria de decote provocante e cabelos compridos, com a promoção que o chefe lhe prometera, a viagem a Espanha que combinara fazer com o colega, com a mudança de casa assim que fosse promovido… agora os sonhos estavam no caixote do lixo, os sonhos ocupavam um espaço que ele não tinha mais e provocavam-lhe uma ansiedade que o deixava morto de cansaço.
 Adeus sonhos, talvez até à vista… peço desculpe por ser tão indelicado e de vos misturar com as cascas de batata, as cascas dos ovos, os papeis amarrotados, mas não tenho mais lugar para vocês, nem abrir a janela consigo… Adeus meus companheiros, agora não tenho outra solução…

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Ontem

Foi ontem, mas parece que foi há anos. Ontem, estavas aqui, ontem adormeci nos teus braços, agora só me restam todos os "ontens" para relembrar. O futuro só me trará o passado, só nele permanecerás vivo, hoje os meus braços estão vazios, aperto-os contra mim mas já não te sinto, foi ontem...