Francisco estranhou quando o
telefone tocou aquela hora. Não era habitual em Vitória. A voz estava
diferente do outro lado da linha. Fria e incisiva, cortante. A voz de quem dá
uma ordem.
Os
dias ainda estavam longos e a estrada livre. Chegaria a tempo. Vitória
detestava esperar.
Francisco
sentou-se na sua poltrona preferida, perto da janela e junto à lareira que
Vitória não acendera. Aguentava mal o silêncio, pesava-lhe e não conseguia
disfarçar o nervosismo que sentia.
Não se ouvia a música
preferida de ambos. Maria João Pires não tocaria Chopin nessa tarde de Outono.
Vitória
continuava silenciosa. Francisco sabia que o jogo da sedução e paixão não teria
mais lugar. Sentiam que aquele encontro seria decisivo; Vitória recusava
continuar a viver na mentira e na hipocrisia, pedia uma definição.
Os
dois enfrentavam-se; o tom de voz subia, e a verdade, aquela verdade que se diz
nos momentos de desespero vinha ao de cima.
Vitória
olhou para ele com raiva. Toda a frustração, desespero, angustia, que sentira
nesse ultimo ano, estava expressa naquele olhar.
Francisco
dirigiu-se para a porta de entrada. Abriu-a com violência e saiu sem olhar para
trás.
HB