segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Realidade e ficção




Escrever sem que a nossa realidade interfira na escrita, diria missão quase impossível… como podemos falar com convicção do que não conhecemos, do que nunca vimos, das emoções que não sentimos, das dores que não tivemos.
Natália Correia diz num poema “Nascitura estava… eu sou dos Açores naquilo que tenho de basalto e flores…mas nós só nascemos quando somos nós que temos as dores…”
Sim, só quando nós temos as dores, sejam elas quais forem, arranhões ligeiros, feridas profundas, queimaduras graves, podemos levá-las para os nossos personagens fictícios e dar-lhes as dores que nós sentimos. Aí a realidade torna-se ficção, ficção credível.
Não gosto da ficção quando ela nos leva para o caminho do alienamento porque nada está lá, nem a verdade, nem a ficção verdadeira.
Tudo o que escrevemos a sério, passa por nós, mesmo que não sejamos sérios, somente verdadeiros na nossa realidade. A ficção pura e simples, o uso das palavras para efeitos sonoros ou oníricos, só em doses reduzidas, as palavras dos outros têm que  provocar um estremecimento, um sorriso, uma lágrima, sem esse eco a ficção é puro divertimento “divertissement”. Então divirto-me doutra maneira!