segunda-feira, 22 de março de 2021

Chanel

 

5  =  Nº 5

 

Inconfundível, Imbatível, Incontornável, quase centenário, é o perfume mais vendido em todo o mundo. Um simples número diferencia-o de todos os outros – 5 -  Nº 5  -  CHANEL Nº5

Paris, Maio 1921. Corre a notícia que Gabrielle Chanel vai lançar um perfume e que decidiu chamá-lo Nº 5. Apesar do talento, da ousadia, do apurado sentido estético, do reconhecido instinto das coisas perfeitas, atrever-se a chamar a um perfume, Nº5, aparece como uma loucura perigosa, uma verdadeira heresia. E depois há o frasco, nu, despojado, quadrado, tão longe daquilo que se pode esperar dum perfume feminino.

Teme-se que tudo isto não passe de uma provocação inútil, o primeiro passo em falso que Chanel vai certamente arrepender-se de ter cometido.

Nº 5, claro e conciso como uma fórmula, matemático. As matemáticas não mentem…e como é que um nome tão simples, discreto e apagado, consegue conter um perfume de sensualidade, que enfeitiça e estimula sonhos e paixões?

Criado por Ernest Beaux, químico, “nez” e feiticeiro, o Nº 5 é uma colecção de flores vivas e únicas, Jasmim de Grasse, Rosa de Maio de Grasse, Ylan-Ylang das Comores, Sândalo de Mysore, Vetiver, numa orquestração perfeita, onde não há notas predominantes, agudas ou graves, mas um equilíbrio e harmonia inigualáveis. A este “bouquet” juntaram-se aldeídicos, substâncias químicas que lhe dão uma grande leveza, e lhe conferiram a sua modernidade, simplicidade e um classicismo “indémodable”.

Mágico, inconfundível e poderoso, o Nº 5, veste uma mulher com elegância e refinamento. Referência absoluta do perfume feminino, chique e irresistivelmente sedutor. Intemporal.

“Uma mulher que não se perfuma não tem futuro”, dizia Mademoiselle Chanel.

 

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 2 de março de 2021

Sei que não vou por aí...

 

“Sei que não vou por aí…”

“tem um monstro em si suspenso…”

 

Aceitou o confinamento, já estava habituada à solidão, era só uma outra perspectiva, a perspectiva do imaginário…não havia a força do abraço, o cheiro do corpo do outro, o perfume suave…

Tudo era possível na imaginação e os dias foram passando, sozinha, mais sozinha, todos os dias, todas as noites. Fugia da melancolia e da nostalgia, sabia que não podia ir por aí, os riscos eram demasiado grandes. Esquecendo que tinha um corpo, com braços, pernas, mãos para agarrarem, apertarem, acariciarem…   Esqueceu-se…

Pensava que ia sobreviver, afinal gostava do silêncio, e habituara-se há quase total ausência do outro. Esqueceu-se de olhar para dentro ou não queria olhar para dentro, pareceu-lhe ter um monstro suspenso, não pode libertá-lo mas a luta é desigual, o monstro vai insidiosamente invadindo espaços, contaminando, enfraquecendo…

Levanta-se sobressaltada, afinal todos os capítulos fechados pareciam agora querer abrir-se… não, não deixaria, sentiu que só a escrita a poderia salvaguardar…Seria ainda capaz? Chegaria a tempo?