Escrever sem que a nossa realidade interfira na escrita,
diria missão quase impossível… como podemos falar com convicção do que não
conhecemos, do que nunca vimos, das emoções que não sentimos, das dores que não
tivemos.
Natália Correia diz num poema “Nascitura estava… eu sou dos
Açores naquilo que tenho de basalto e flores…mas nós só nascemos quando somos
nós que temos as dores…”
Sim, só quando nós temos as dores, sejam elas quais forem, arranhões
ligeiros, feridas profundas, queimaduras graves, podemos levá-las para os
nossos personagens fictícios e dar-lhes as dores que nós sentimos. Aí a
realidade torna-se ficção, ficção credível.
Não gosto da ficção quando ela nos leva para o caminho do
alienamento porque nada está lá, nem a verdade, nem a ficção verdadeira.
Tudo o que escrevemos a sério, passa por nós, mesmo que não
sejamos sérios, somente verdadeiros na nossa realidade. A ficção pura e simples,
o uso das palavras para efeitos sonoros ou oníricos, só em doses reduzidas, as
palavras dos outros têm que provocar um
estremecimento, um sorriso, uma lágrima, sem esse eco a ficção é puro
divertimento “divertissement”. Então divirto-me doutra maneira!
<3
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