terça-feira, 2 de março de 2021

Sei que não vou por aí...

 

“Sei que não vou por aí…”

“tem um monstro em si suspenso…”

 

Aceitou o confinamento, já estava habituada à solidão, era só uma outra perspectiva, a perspectiva do imaginário…não havia a força do abraço, o cheiro do corpo do outro, o perfume suave…

Tudo era possível na imaginação e os dias foram passando, sozinha, mais sozinha, todos os dias, todas as noites. Fugia da melancolia e da nostalgia, sabia que não podia ir por aí, os riscos eram demasiado grandes. Esquecendo que tinha um corpo, com braços, pernas, mãos para agarrarem, apertarem, acariciarem…   Esqueceu-se…

Pensava que ia sobreviver, afinal gostava do silêncio, e habituara-se há quase total ausência do outro. Esqueceu-se de olhar para dentro ou não queria olhar para dentro, pareceu-lhe ter um monstro suspenso, não pode libertá-lo mas a luta é desigual, o monstro vai insidiosamente invadindo espaços, contaminando, enfraquecendo…

Levanta-se sobressaltada, afinal todos os capítulos fechados pareciam agora querer abrir-se… não, não deixaria, sentiu que só a escrita a poderia salvaguardar…Seria ainda capaz? Chegaria a tempo?

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