As origens de Talasmal perdiam-se na
memória do tempo.
As
paredes das casas eram graníticas, pesadas, quase ameaçadoras. Os habitantes há
muito que tinham partido, a maioria para terras longínquas onde a quimera de
uma vida melhor, não apagara a esperança.
Restava
a casa grande onde uma mulher ainda nova morava todo o ano. Restavam também alguns velhos sós e tristes
esperando pacientemente o fim
Talasmal,
talismã, um nome estranho, árabe, talvez… a mulher nova, alta, magra e porte
aristocrático, não parecia incomodar-se com a solidão.
No Inverno embrulhava-se numa capa vermelha,
cobrindo-se dos pés à cabeça. Levava os cães a passear e parava no alto monte
onde em tempos houvera um miradouro. Olhava o horizonte como se esperasse algo, alguém, alguma coisa. Os
velhos viam-na passar e murmuravam “bom dia Srª. Condessa”.
No Verão tomava banho no lago, quase nua. Os
velhos, eram tão velhos que nem se levantavam para olhar o corpo que já não
cobiçavam.
Murmurava-se
que esperava alguém, mas ninguém sabia responder quem. Viera para ali quando
Talismal ainda tinha gente. A aldeia esvaziara-se e ela ficou, ausentando-se às
vezes, sempre pouco tempo.
Um
dia viram chegar um carro, os velhos, muito velhos olharam surpreendidos. O
carro parou, dele saiu um homem grisalho, rugas profundas; perguntou onde
ficava a casa grande…”Siga em frente, sempre em frente”.
A
mulher de capa vermelha abriu o portão. Abraçaram-se com sofreguidão, com
violência, como se o mundo fosse acabar naquele momento.
“Livre,
disse ele, vinte anos passados naquele inferno!”
“Vem,
esperei muito tempo, vem, deixa-me conduzir-te.”
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