sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Empacotou a vida


Passou os últimos dias a empacotar, procurou ter alguma ordem, primeiro os livros, depois as fotografias, a seguir a roupa. Empacotou os últimos anos da sua vida. Sonhos, memórias, lágrimas.
“A casa é grande “ diziam, “grande demais agora que está sozinha.” Deixou-se convencer a contra gosto procurando ser racional, mas racional era a última coisa que queria ser. Achava que tinha idade para deixar de lado as racionalidades. Racional rima com emocional. Razão ou emoção ou emoção com razão?
A casa está vazia, não, está cheia dela, a outra para onde a querem levar, essa, está vazia.
Olha à sua volta, vê sombras, vultos, ouve sons, sente o cheiro da madeira a arder na lareira…volta atrás. Senta-se na cadeira de balanço que ficou na varanda. Não, ninguém a vai obrigar a deixar a sua vida e a encontrar a solidão do outro lado.

Depois levanta-se devagar, muito devagar…o tempo é dela, só dela.

1 comentário:

  1. Belo texto, Helena!
    Mas é preciso viver muito para saber do que ele fala. Se fosse só solidão...até, talvez, se aguentasse. Mas é muito mais do que isso!

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