A caixa estava ali, em cima do banco, indefesa,
sozinha. Alguém a esquecera. Vera aproxima-se fascinada, como que
hipnotizada. Tem que chegar antes que alguém a veja; segura-a com ambas
as mãos, a madeira está envelhecida, a pintura estragada. Talvez tivesse sido
dourada em seu tempo. Um fecho e um pequeno cadeado. É leve, o que
está dentro não tem peso. Aquela caixa só pode conter segredos.
Deseja chegar a casa e poder abri-la. Sim, são cartas
que estão lá dentro. Há um leve cheiro a rosas, suave e feminino. É um pequeno maço de cartas, todas escritas pela mesma
pessoa. Uma mulher perdidamente apaixonada. Vera sente-se a entrar
na intimidade de dois seres que se amaram, mas que a vida separou cruelmente.
Há um envelope mais pesado, abre-o com cuidado. Lá
dentro estão duas fotografias. Numa, o rosto de uma mulher nova de cabelo solto
e um sorriso lindo, noutra a mesma mulher, agora de pé, à porta de uma casa.
Atrás está escrito:
“Voltei à nossa “casa”, quis fixar a imagem para
sempre”. A carta diz mais, muito mais, Vera tem dificuldade em acreditar:
“Pedro meu amor,
Foi aqui que nos amámos. Foi aqui que marcaste o meu destino para sempre. O filho que agora
espero, terá o teu nome, é a única forma de assegurar que poderei expressar o
meu amor, sem que ninguém perceba ou entenda. Poderei pronunciar o teu nome
vezes sem conta, acariciar-te os cabelos, abraçar-te.”
Vera olha detalhadamente a fotografia, reconhece a
casa, o alpendre, a varanda. A casa de Sintra onde a Avó Maria gostava de
passar férias sozinha, e a verdade imensa, esmagadora, surge-lhe. As lágrimas
correm soltas. Fecha a caixa e guarda-a em lugar seguro.
No dia seguinte na estação vê um pequeno anúncio:
“A quem achou um caixa de madeira tosca…”
Observa à sua volta e repara num velho senhor de
cabelo branco que olha ansioso a multidão. Aproxima-se e pergunta-lhe:
- Perdeu alguma coisa?
Admirado o velho senhor de cabelo branco volta-se, tem
uma expressão triste. Vera segura-lhe a mão e diz baixinho:
“Encontrei o seu tesouro, venha comigo.”
É um prazer ler os seus textos. Todos.
ResponderEliminarA rítmica, algum laconismo, a rítmica e, ainda, a rítmica.
MJ
Para mim as suas palavras são pura emoção. Sim eu sei, eu sinto há um ritmo talvez seja o meu gosto pela dança!
EliminarAinda bem, Lena, que nos entendemos.
ResponderEliminarSuponho que já me situou, algures há 60-50 anos.
É uma glória vivermos ainda com entusiasmo.
Viva
MJ
Já agora, pertenço à outra espécie criada pelo Wells, que não os Morlocks.
ResponderEliminarMJ
Sim já a situei. O Google ajudou porque não gosto de ficção científica mas cheguei lá através dos Morlocks. Lembro-me como gostava tanto de si apesar da "pequena" diferença de idade. 2015 será o ano dos reencontros com o passado, Recuperei duas amigas de há sessenta anos atrás. Viva 2015!
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