Faz um calor abrasador. Não mexe uma
palha.
Uma
miúda caminha sozinha pela berma da estrada, nas costas a mochila da escola, a
cabeça protegida por um pequeno chapéu de palha. Tem ainda um quilómetro a
percorrer até chegar à paragem do autocarro que passa de hora a hora.
Todos os dias a mesma rotina. São mais
de vinte minutos a pé, de manhã e ao fim da tarde. Hoje está cansada; a
paisagem é seca e desoladora, só uns miseráveis chaparros aqui e ali; gosta
mais quando o trigo está crescido e dança ao vento. Mas agora nem vento há. O
que lhe vale é gostar da escola, senão não vinha mais.
Os pais moram longe, lá no monte
isolado, não sabem ler, nem escrever, mas mesmo assim apoiam a filha. É
esperta, viva e gosta de aprender.
De repente sente um barulho de um
motor, mas não é o autocarro; é uma moto
pequena que se aproxima e para junto dela.
“Não gosto disto”,
pensa, Maria apressa o passo e ouve “Maria, eh Maria, sou o João da tua aula, não
tenhas medo”.
Suspira de alívio e
volta-se para se certificar que é mesmo o João.
“Que é que tu
queres? Nunca passas por aqui…”
“É raro, mas vim
ter contigo, com este calor tive medo que te sentisses mal. Vem Maria, dou-te
boleia até casa, só te quero ajudar.”
Maria hesita, gosta
do João, é bom rapaz mas mesmo assim…
“ Vem Maria, põe
este capacete, levo-te a casa.”
E lá vai Maria,
sentindo o vento quente na cara, nos braços, nas pernas. Nunca tinha andado de
moto.
“É giro", pensa e
agarra-se com força ao João que a deixa à porta de casa, afogueada, despenteada
e feliz.
Nunca mais vai
estar sozinha na paragem do autocarro.
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