Os anos não acabam, continuam suavemente no
decorrer dos dias que marcam o início de um novo ano. Nós também não mudamos,
apesar das promessas, dos desejos, e do entusiasmo que queremos ter ao baterem
as doze badaladas.
O ano foi bom, difícil, angustiante,
desgastante, feliz, infeliz? Às vezes foi tudo isso em doses moderadas, outras
vezes não houve moderação e os tempos de dor acentuaram-se de tal maneira, que todo o
resto se desvaneceu em cores pálidas. Não gosto de falar de sentimentos tão
íntimos como ausência, perda, vazio, tenho a sensação de estar a fazer uma
espécie de strip tease sentimental e que deveria ser capaz de resolver essa
complexidade dentro de mim, sem precisar de escrever ou falar do que se passa
quando reconhecemos que o vazio não será preenchido, e que a ausência será para
sempre. Talvez eu esteja assim a estender a mão a alguém, a querer sentir o calor
e a força de outra mão, os dedos entrelaçados nos meus e as lágrimas a caírem
sem pudor.
Foram muitas perdas já, fui ganhando e perdendo
resistência sem saber bem até quando podia, até quando era capaz. E no entanto
aqui estou, viva ainda, sem amargura, sem medo, procurando analisar o que permanece
intacto dentro de mim, o que merece a pena preservar, o que merece a pena
eleger e cultivar, esperando talvez de forma quase irracional uma recompensa
que não sei qual é.
A dor é um percurso solitário, ninguém do outro
lado pode medir, pesar, avaliar. A dor é nossa, como também é nossa a capacidade
de deixar que cicatrize, mesmo quando o processo é longo e doloroso. Tenho pensado muito nisso e reconheço na minha resiliência uma
característica que me protege da melancolia e da solidão. Sou ainda capaz de
rir e considero o sentido de humor uma espécie de privilégio que me permite dar
um passo em frente e continuar.
“Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade. O
essencial faz a vida valer a pena, e, para mim, basta o essencial!” Mário de
Andrade
Bom ano, Lena, sem contrariedades maiores, apenas as essenciais.
ResponderEliminarRindo ou sorrindo do mundo, de si e dos outros.
Gostaria de conversar consigo, mas até isso parece difícil.
Lembranças
M. João
Maria João, seria uma maneira óptima de começar o ano, encontrarmos-nos e conversar e last but not least reconhecermos-nos! Quantos anos já?
Eliminarhelena.barradas35(@)gmail.com