“Parole, parole, parole…” lembro-me da canção.
Palavras que largamos sem sentido, que enchem o espaço e desaparecem segundos
depois. Palavras que não exprimem a verdade, porque não queremos que ninguém
diga a verdade. Recordo a peça “Huis Clos”de Sartre que vi em Paris há muitos,
muitos anos, agora quase tudo foi há muitos, muitos anos. Três, seriam mais?
Três personagens fechados num quarto, dizendo mentiras que queriam que fossem
verdades e quando realmente a verdade apareceu percebem que estão no inferno.
O inferno da verdade, das palavras que não
escondem nada, que estão ali ameaçadoras, acusadoras, não há benevolência na
verdade. “Nua e crua” por alguma razão a verdade amedronta, fugimos dela porque
nos sentimos incapazes de viver só com ela. A mentira é aquilo que muitas vezes
queremos ouvir, aquilo que nos permite continuar, afastamos a verdade com um
gesto brusco e deixamos que a mentira nos possua.
Palavras que esquecemos, que não têm cheiro nem
sabor, ou têm? Palavras que não são palpáveis, ou são? Agarramos a palavra,
seguramos com força e quando abrimos a mão não está lá nada, nada. Palavras que
exprimem emoções, raiva e impotência, palavras carinhosas que nos acariciam,
que tocam o nosso corpo e agitam a nossa consciência …e depois impiedosamente
nos deixam vazios.
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