sexta-feira, 20 de março de 2015

Intolerância, Posse ...Amor?

Tinham-me dito que ele era teimoso que nem um burro, mas que era muito inteligente.
Pensei:  “Não é possível, ou o homem é teimoso e burro, e pronto é uma chatice ter que o aturar, ou o homem é inteligente e vai ser capaz de entender a minha argumentação; claro que tenho que ir bem preparada, parece-me evidente que ele não quer ceder a ninguém, e portanto criou uma barreira à sua volta para não se deixar influenciar.
A tarefa não seria fácil, o assunto era delicado, deixar que a única filha, seguisse a carreira teatral, mas contrariar aquele imenso talento era uma forma de castração e violência, palavras que não poderia usar nunca.
Entrei na sala sem medo.  Olhou-me com altivez e soltou um “sente-se se faz favor. Sei ao que vem, diga-me o que tem a dizer, não tenho tempo a perder.”
“ Não quero que perca tempo, ao  contrário gostaria que ganhasse tempo. De reflexão e de sensibilidade. Ama  a sua filha e tenho a certeza que quer o que pensa ser o melhor para ela…mas o melhor para os nossos filhos não é prendê-los com uma  corrente, como se fossem propriedade nossa e impedi-los de voar.”
“Eu sei o que é melhor para ela.”
“Não, desculpe sabe o que é melhor para si, não para ela.”
“Não quero que ela sofra.”
“Nenhum pai quer que os filhos sofram, mas quer maior sofrimento que matar os sonhos, o talento, impedir o voo livre de alguém que tem o talento  da sua filha. Já pensou como aquilo a que chama amor pode ser sinónimo de posse e crueldade?”
Olhou-me surpreso…“Explique-se um pouco melhor se não se importa".

1 comentário:

  1. Um relato muito interessante dos argumentos que conseguiram abalar os critérios intransigentes do ‘amor’ paternal que herdámos do séc. XIX e que alguns mantêm, infelizmente.
    MJE

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