Tinham-me
dito que ele era teimoso que nem um burro, mas que era muito inteligente.
Pensei: “Não é possível, ou o homem é teimoso e
burro, e pronto é uma chatice ter que o aturar, ou o homem é inteligente e vai
ser capaz de entender a minha argumentação; claro que tenho que ir bem preparada, parece-me evidente que ele não quer ceder a ninguém, e portanto criou
uma barreira à sua volta para não se deixar influenciar.
A tarefa
não seria fácil, o assunto era delicado, deixar que a única filha, seguisse a
carreira teatral, mas contrariar aquele imenso talento era uma forma de
castração e violência, palavras que não poderia usar nunca.
Entrei na
sala sem medo. Olhou-me com altivez e soltou
um “sente-se se faz favor. Sei ao que vem, diga-me o que tem a dizer, não
tenho tempo a perder.”
“ Não
quero que perca tempo, ao contrário gostaria
que ganhasse tempo. De reflexão e de sensibilidade. Ama a sua filha e tenho a certeza que quer o que
pensa ser o melhor para ela…mas o melhor para os nossos filhos não é prendê-los
com uma corrente, como se fossem
propriedade nossa e impedi-los de voar.”
“Eu sei o
que é melhor para ela.”
“Não,
desculpe sabe o que é melhor para si, não para ela.”
“Não quero
que ela sofra.”
“Nenhum
pai quer que os filhos sofram, mas quer maior sofrimento que matar os sonhos, o
talento, impedir o voo livre de alguém que tem o talento da sua filha. Já pensou como aquilo a que
chama amor pode ser sinónimo de posse e crueldade?”
Olhou-me
surpreso…“Explique-se um pouco melhor se não se importa".
Um relato muito interessante dos argumentos que conseguiram abalar os critérios intransigentes do ‘amor’ paternal que herdámos do séc. XIX e que alguns mantêm, infelizmente.
ResponderEliminarMJE