segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Despertador indiscreto


Já toquei. Cumpri o meu dever. Sei que sou estridente e intrometido mas se não for assim ela adormece novamente.
Gosto de a observar quando se espreguiça na cama, os olhos quase fechados. Primeiro estica as pernas, depois os braços. No Verão ela está linda, quase nua e eu, mudo, a olhar para aquele corpo jovem e elástico que eu conheço há alguns anos.
Sou um privilegiado e não me queixo da vida. Depois ela põe a música a tocar. Conheço-lhe os gostos: se tem alguma reunião importante lá vem a música clássica, Beethoven ou Chopin, às vezes Mozart. Levanta-se séria, decidida e lá vai para debaixo do duche onde fica horas. A música continua a tocar até ela estar pronta.
A mim também me desliga não vá eu começar a tocar fora de propósito. Aconteceu uma vez, mas essa não posso contar porque é muito intima e eu prometi a mim próprio que não dizia a ninguém. O que eu mais gosto é quando ela se ri e solta uma daquelas gargalhadas irresistíveis. Acontece muitas vezes quando telefona o Edward, que eu não conheço mas de quem tenho ciúmes. A esse se pudesse despertava-o às cinco da manhã só para me vingar.
Tenho uma vida calma, rotineira, mas em paz comigo próprio. Cumpro o meu dever e gosto muito, mesmo muito da minha dona.


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