terça-feira, 26 de novembro de 2013

Sonata de Chopin



Francisco estranhou quando o telefone tocou aquela hora. Não era habitual em Vitória. A voz estava diferente do outro lado da linha. Fria e incisiva, cortante. A voz de quem dá uma ordem.
Os dias ainda estavam longos e a estrada livre. Chegaria a tempo. Vitória detestava esperar.
Francisco sentou-se na sua poltrona preferida, perto da janela e junto à lareira que Vitória não acendera. Aguentava mal o silêncio, pesava-lhe e não conseguia disfarçar o nervosismo que sentia.
Não se ouvia a música preferida de ambos. Maria João Pires não tocaria Chopin nessa tarde de Outono.
Vitória continuava silenciosa. Francisco sabia que o jogo da sedução e paixão não teria mais lugar. Sentiam que aquele encontro seria decisivo; Vitória recusava continuar a viver na mentira e na hipocrisia, pedia uma definição.
Os dois enfrentavam-se; o tom de voz subia, e a verdade, aquela verdade que se diz nos momentos de desespero vinha ao de cima.
Vitória olhou para ele com raiva. Toda a frustração, desespero, angustia, que sentira nesse ultimo ano, estava expressa naquele olhar.
Francisco dirigiu-se para a porta de entrada. Abriu-a com violência e saiu sem olhar para trás.

HB

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