Olhava para o rapaz que não teria mais que doze
anos franzinos e tristes. No entanto a paciência que demonstrava ao deitar
cuidadosamente areias coloridas para dentro da garrafa, demonstrava uma imensa
dose de persistência e mestria.
Levantou os olhos e perguntou:
“A senhora quer aprender?”
“Não, não, só te quero ver trabalhar e admiro a
tua paciência.”
“Gosto, disse ele, “aprendi com o meu pai, que já
tinha aprendido com o meu avô, mas o melhor de todos é o meu pai. Está horas e
horas a escolher as cores e os bonecos que vai ser capaz de construir. Amanhã
eu trago para a senhora ver uma garrafa que foi premiada. Ele tem uma medalha
que está pendurada em cima da cama. Diz que lhe dá sorte e paciência.”
“E tu herdaste o talento do teu pai, pelos
vistos!”
“Tomara…mas ainda vou precisar treinar muito.”
“Tens a vida à tua frente, e paciência não te
falta.”
Sentei-me e olhei o mar e a areia da praia,
branca e fina. Seria completamente incapaz de encher com areias coloridas fosse
o que fosse. Iria misturar tudo, estabelecer o caos, sem forma, sem sentido. As
areias não seriam nunca matéria que eu pudesse moldar. As palavras, as letras sim.
Esculpir palavras, frases, alisar arestas, libertá-las de ornamentos
supérfluos, tirar vírgulas, pôr pontos.
Sim era essa a minha garrafa de areias coloridas,
presas por mim numa página que deixou de estar vazia e que pintei ao sabor da
minha imaginação.
lindo demais
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