terça-feira, 15 de outubro de 2013

Botox ou não botox, eis a questão

Very short story
Personagens:

Victória - Mulher 50/60 anos obcecada com a aparência
Ana - Filha 
Luigi - Italiano aventureiro

Victória veste-se como se tivesse 20 anos. Obcecada com a aparência, várias operações estéticas, botox, liftings; pouco resta do rosto original. Move-se no mundo do jet set, onde tudo o que parece não é. Procura a eterna juventude, só tem presente, porque apagou o passado e não quer o futuro. Marionete nas mãos dos cirurgiões plásticos que há muito plastificaram a sua cara.
Mais um cocktail, inauguração da loja Adrap. “Ainda bem que o tempo está quente”, pensa Victória. “Assim posso usar o vestido mini e as sandálias Blanik.
O cabelo solto pelos ombros, ela e a filha são tão parecidas. Pernas altas, olhos azuis.
Victória vive para as festas, os cocktails, as inaugurações, é esse o seu desígnio de vida. O espelho reflecte-lhe um rosto inexpressivo, repuxado, uma boca cheia de botox, que ela acha irresistível.
“Acho tanta graça quando me confundem com a Ana.”
Ana olha confrangida para a mãe, que já não tem idade para se vestir daquela forma e cujo rosto é uma imitação do que já fora.
Victória tinha perdido a auto-critica, e quando Ana lhe dizia “Oh mãe mas esse cabelo, parece uma Barbie, já não tem idade para isso..”
“ A menina é uma parva, não vê que não tenho uma ruga e agora que refiz as maminhas já posso usar decotes mais fundos.”
“Oh mãe, já pensou que eu posso sentir alguma vergonha?”
“Sinto-me jovem Ana, sou jovem e adoro que me achem jovem.”
Ana encolheu os ombros, perdeu a esperança de convencer a mãe que gostaria de ver umas rugas, uma marca de vida, que ela teimosamente apaga.
Victória está pronta, patética figura inexpressiva e estereotipada . Acha-se chique, super chique, moderna, ousada.
A passadeira vermelha espera os convidados. Victória bamboleando-se nos saltos altíssimos, sorri à direita e à esquerda.
“Olá querida, olá querido!”
Repara num homem novo que lhe lança um olhar irónico. Não o conhece, quem será, pensa. “Mas é lindo”. O homem lindo fixa os brilhantes, o colar, os brincos.
Victória estremece, o homem sorri e aproxima-se:
“Victória Magalhães?” “Sim, como sabe o meu nome?”
“Das revistas sociais, você aparece sempre e não é fácil esquecê-la”.
“Mas nunca o vi antes…”
“Vivi alguns anos em Itália. Regressei há pouco. Luigi Benedetti, é um prazer conhecê-la.”
“Italiano?”
“Sim, a minha mãe, de Florença...”
Victória sente-se no céu, nas nuvens, num lugar qualquer etéreo e transparente.
Há muita gente, muitas saias curtas, muito sorrisos com botox, muitos cabelos cheios de extensões, muitos homens de camisa branca sem gravata “à la Tom Ford”.
Luigi acompanha-a, sorri, segura-lhe o braço pelo cotovelo, a mão é quente…
Victória sonha.
Acorda no quarto de hotel. De Luigi nem sombra. Levanta-se estremunhada…a taça onde deixara os brincos, os anéis, o colar, está vazia…



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