Falei-te
deste livro muitas vezes, li-o há muitos anos, quando tudo era ainda
desconhecido para mim; a vida, a paixão, a morte. Chorei e sofri ao lê-lo, mas
não o esqueci nunca, por isso o escolhi para ti.
Rias-te,
dizias que era a minha bíblia, irritavas-me e não me esqueço. Ofereço-te hoje
depois de tantos anos, como vingança dessa ironia imatura.
Tenho
saudades do tempo da voragem, da fome, quando um livro era sempre mais uma
descoberta, um passeio, uma viagem, um drama vivido também por mim.
“Jean Christophe”, a solidão, a amizade,
o amor. As lágrimas que corriam sem eu as poder parar, a sofreguidão da
leitura.
O
tempo apagou o ímpeto, talvez porque a vida se encarregou de se tornar um
livro, que procurei escrever, muitas vezes sem me preocupar com o ritmo, a
velocidade, o perigo.
E
por isso me lembro de “Jean Christophe” e a emoção com que o li. Porque nessa
altura eu gostava da tristeza sem ser triste, e compreendia a solidão sem estar
só.
A
vida, capítulos que se escrevem, que se encerram. Volume I, II, III, e talvez ainda o IV e o V. Não pensei que o
livro fosse tão longo.
Rias-te,
quando eu vivia pelo “Jean Christophe” e para o “Jean Christophe”. E hoje,
porque não te perdoo se não o leres, vais perceber a minha emoção.
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