Diria que a
vida se dividira, como se um rio se tivesse atravessado entre o passado e o
presente.
“Só temos o nosso passado” a
frase vinha-lhe ao pensamento de forma persistente. As imagens corriam em
liberdade, mas tudo parecia afogar-se num mar de sonhos não realizados.
Projectos, tivera tantos, que agora a palavra perdera o sentido.
Pensara em
escrever mas sentia-se um pouco como um barco à deriva, puxado pela corrente. Tinha consciência e isso irritava-a, que muitas vezes lhe faltara a coragem para atravessar a ponte, a ponte sobre o rio que se multiplicava em
infinitos afluentes.
Deixou a
imaginação mergulhar nas águas revoltas sem se afligir com a possibilidade de
ser levada para longe, muito longe, onde o passado se diluía e o presente podia
ser inventado todos os dias.
Ganhar a
liberdade que a escrita sempre lhe oferecera e aceitar perder-se na imensidão
de uma página branca onde tudo era possível acontecer.
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