O navio
afasta-se lentamente do cais, as silhuetas ficam cada vez mais indistintas e na
memória dos que partem só fica o ronco da chaminé a anunciar a partida.
O mar é
escuro, profundo e misterioso, o navio entra nele sem medo, mas atento; à frente está a travessia que se anuncia longa e talvez perigosa. Os dias passam iguais,
mar e mais mar, água, espuma, nuvens brancas ou negras, um céu que de vez em quando
muda de cor e se torna ameaçador.
Instala-se
um sentimento de melancolia, o entusiasmo do início desaparece para dar origem
a uma sensação de cansaço e claustrofobia. Há romances que começam, outros que
acabam, há traições e mistérios.
As nuvens
agitam-se cor de chumbo e as ondas balançam o navio, mais, cada vez mais,
varrem-no de lado a lado, da proa à ré, de bombordo a estibordo, violentamente.
Uns rezam, outros choram, outros aterrados, esperam. Uma noite de inferno. O
navio e o mar, uma luta desigual, as ondas ainda, triunfantes, violentas.
O vento
acalma e o navio entra finalmente no porto. Terra enfim; descem os primeiros
passageiros, cambaleantes, pálidos, lá em baixo abraçam como zumbies os que os
aguardam. Balançam na terra como se estivessem possuídos por uma força
misteriosa.
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